Retrato de paternidadeJuliana Petermann style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever"> Iniciemos pelos dados. Um report da consultoria 65/10 indica que mais de 5,5 milhões de brasileiros não têm o nome do pai na certidão de nascimento. Entre os anos de 2005 e 2015, o Brasil passou a mais de 1 milhão de famílias formadas por mães solo. Já de acordo com dados da Gênero e Número, o Brasil é o país que mais mata pessoas trans e travestis. A expectativa de vida de uma pessoas trans é de apenas 35 anos. E, um último e curioso dado, da Super Interessante, o Brasil é o país que mais busca por pornografia transexual na internet. PAI PRESENTE Aparentemente, para conservadores e moralistas, nem os dados de violência, nem os de abandono paterno, chocam ou indignam tanto quanto uma campanha publicitária do Dia dos Pais. Na semana que passou, a marca Natura recebeu ataques nas redes sociais por incluir, em sua campanha, o ator Thammy Miranda. Thammy, pai de Bento, nem chegou a estrelar o comercial: o contrato previa tão somente posts nas redes sociais com a temática #paipresente. Mesmo assim, despertou a sanha de anônimos e famosos. Um consumidor diz: "Natura você não entra mais na minha casa. Thammy Miranda jamais será exemplo de pai, tantos homens poderiam ter sido escolhidos como exemplo". Já um famoso pastor pediu o boicote da marca, que, segundo ele, é "uma afronta aos valores cristãos".
UM ESPELHO Mesmo diante dos ataques, nos últimos dias, as ações da Natura subiram mais de 12%. Não é de hoje, e também não é sem objetivos comerciais, que a publicidade procura contar histórias de forma mais inclusiva. Antigamente, a publicidade oferecia um produto pelo que ele é. Depois, passou a destacar um modo de vida a ser obtido pelo consumo. Hoje procura construir narrativas que engajem consumidores, abordando causas e, feliz e tardiamente, busca ser um espelho mais fidedigno da sociedade. Porém, a apropriação de causas sociais pela publicidade não é de aprovação unânime, sendo essa uma discussão que divide opiniões. Além disso, os comentários raivosos nas redes sociais, revelam que ao se apropriar de uma causa, a marca assume um lado, entrando em dissonância com o outro: "Perder consumidores também fará parte da estratégia de campanha, a partir do posicionamento de marca frente a indicadores culturais do presente", diz a antropóloga Valéria Brandini, para o UOL. A Natura dá um passo necessário para a representação da diversidade, porém talvez tardio e ainda insuficiente, diante de questões que transcendem o discurso publicitário. |
Só queremos um exemplo style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">Vocês já ouviram falar em exemplo? É mais ou menos assim: um pai, com um copo de Chivas Regal na mão, enquanto toma a sua terceira dose, passa uma carraspana no filho, porque ele bebeu numa balada. Ou o outro, que fuma dois maços de cigarro por dia, mas deixa a filha sem sair por três finais de semana, porque achou uma carteira de cigarros na bolsa que ela usou ontem para ir à festa de uma amiga. Ou ainda aquele pai que dirige há mais de dez anos sem carteira, mas não deixa o filho de 25 anos nem pegar o volante, porque é proibido dirigir sem habilitação. Eu me lembro de um caso bem simples: minha filha devia ter uns quatro anos e tentava consertar a cabeça de uma boneca (sim... o que ela mais gostava de fazer na vida era arrancar a cabeça das bonecas) e, não conseguindo, soltou um palavrão; pois senhores, eu fiquei injuriada e tão irritada, que dei uma bronca tão, mas tão efusiva, que usei três palavrões no meu discurso. Minha filha tem mais de 30 anos e sempre se lembra disso. Eu teria muito mais exemplos para citar, mas é mais ou menos por aí...
REGRAS DE CONVIVÊNCIA Sempre me pergunto o que é mais eficiente: a educação por atos, ou seja, dar aos filhos exemplos através de atos pelo menos saudáveis ou perder horas explicando e explicando e explicando. Ao fim e ao cabo, de nada adianta um sermão sobre bebida, cigarros etc., se quem está alertando bebe, fuma. De nada adianta brigar porque o filho falou um palavrão se você fala. Eu sei que é complicado, mas o filho tende a copiar tudo o que os pais fazem ou falam. A gente tem, desde muito cedo, a tendência de copiar: criança imita tudo! Isso já deu até uma desconfiança de adultério num romance de Machado de Assis. Pois bem... Estamos convivendo com regras de convivência cada vez mais complicadas: não pode, não pode e não pode. O tempo está passando e estou roxa de saudades dos meus alunos, do trânsito, até dos buracos da faixa de Camobi. O melhor a fazer é esperar, ter fé e desligar a TV, isso se quiser ter um pingo de otimismo porque, fala sério... E quais os exemplos que estão aparecendo por aí? Ruas cheias, pessoas sem máscaras, festas, aglomerações sem necessidade, bares lotados, milhares de pessoas infectadas com covid19, pessoas morrendo em filas de hospitais. E nós, no meio disso tudo, perdidos, procurando uma luz, um alento, um exemplo a seguir... E o que temos?
Pois é... Então peço licença, mas não há como não me lembrar da estância 138 do Canto III de Os Lusíadas de Luís de Camões: "Do justo e duro Pedro nasce o brando, (vede da natureza o desconcerto!) Remisso, e sem cuidado algum, Fernando, Que todo o reino pôs em muito aperto: Que, vindo o Castelhano devastando As terras sem defesa, esteve perto De destruir-se o Reino totalmente; Que um fraco Rei faz fraca a forte gente."
Salve o nosso rei, nossa forte gente e oremos! |